Este blog exibe um conteúdo 100% católico e é administrado pelo pe. Saverio Licari. Através da arte e da iconografia oriental deseja-se divulgar a Palavra Eterna de Deus pelos novos areópagos do homem contemporâneo. Com efeito, a encarnação de Cristo é o fundamento iniludível da representação de Deus em forma humana.

SUGESTÕES PARA ORAR COM OS ÍCONES

Observando um ícone com atenção, percebemos que não conseguimos abraçar de uma só vez o seu significado e a sua espiritualidade. Será preciso escolher um detalhe, um gesto, um rosto e concentrar ali a nossa atenção. Por exemplo: diante da Virgem de Vladimir, Mãe da Ternura, podemos fixar o nosso olhar no da Virgem, ou num só olho, ou numa só pupila, perdendo-nos naquele olhar sofrido e preocupado e, ao mesmo tempo, sereno e consciente (quanto menor for o detalhe escolhido, melhor será a nossa concentração).
Antigos textos orientais afirmam que o ícone diante do qual se reza não é apenas contemplado por aquele que reza, mas ele olha o orante e o faz sentir amado. Isso não acontece, certamente, ao observador distraído ou com pressa, e nem mesmo a quem tem um olhar apenas técnico.
A união do orante com o Amado se realiza no esquecimento de si e no estupor da adoração. Se o próprio Mestre Jesus se afastava de tudo e de todos para orar, quanto mais nós devemos adquirir esse hábito. Aprende-se a rezar rezando. Se contemplamos o ícone por um tempo prolongado, ele retribuirá o nosso olhar amoroso.
A oração pessoal ou comunitária poderá articular-se da seguinte forma:
1) Um tempo para ouvir: ler o texto bíblico correspondente ao ícone.
2) Um tempo para amar: observar o ícone, escolher um detalhe.
3) Um tempo para deixar-se amar: imprimir no nosso coração e na nossa mente o detalhe escolhido para levá-lo conosco no nosso dia a dia como sinal de ternura do ícone.
4) Desejar ter os mesmos sentimentos que foram em Cristo Jesus.
Feito isso com fidelidade e amor a Deus, experimentaremos a paz que Jesus prometeu aos seus amigos. Se esta prática de contemplação se tornar um hábito na nossa vida, a nossa espiritualidade será vivida na plenitude e penetraremos nos mistérios do "Emanu-El", o Deus conosco.     pe. Saverio
Um exemplo de mensagem através da arte: "A volta do filho pródigo" (Lc 15, 11-32) de Rembrandt van Rijn.

Estamos diante de uma belíssima pintura que relata uma página da Bíblia de alta densidade teológica e espiritual. Rembrandt van Rijn nasceu em Amsterdã em 1606, compôs mais de duas mil obras quase todas de inspiração religiosa. O que de imediato impressiona na pintura é a luz que nasce do íntimo dos personagens. O rosto do pai é de uma pessoa sofrida, transfigurada pelo amor; não enxerga mais por causa da espera prolongada, de olhar o horizonte de casa na esperança de ver o filho aproximar-se; este pai derramou muitas lágrimas pelo filho. A figura do pai que se debruça no filho, a curva que esta desenha, domina a cena e lhe confere uma majestade doce e materna, firme e feminina ao mesmo tempo.
O filho se modela e se aconchega, dentro deste arco amoroso, como se fosse um seio materno. Pai e mãe ao mesmo tempo, que regenera com o calor do seu amor o filho. Olhamos as mãos paternas: expressam o que a palavra não consegue dizer; existe um acordo secreto entre as mãos e o rosto: expressam amor, apoio, solicitude, firmeza e segurança. Notamos a diferença: a mão esquerda é máscula, forte e amparadora; a mão direita é delicada, fina e leve, como a mão de uma mãe, consoladora e carinhosa. Mãos que envolvem num abraço o próprio filho; mãos da criação que renovam vidas, mãos que revigoram no sofrimento humano. É assim que Rembrandt nos fala, através da sua arte pictórica, da figura de Deus como Pai.
O filho tem a nuca raspada que parece aquela de um deportado, um excluído, um despojado de dignidade, que conhece a fundo o drama do sofrimento humano. Sem importar-se com sua aparência, ele se esconde no colo do pai e descansa. Notamos a luminosidade da testa do pai, desce em vertical na cabeça, nos ombros e se irradia pelo corpo todo do filho, envolvendo-o numa luz amorosa e restauradora. Os pés do filho, sujos e cheios de feridas, lembram o longo caminho de retorno: as sandálias usadas e consumadas fala-nos de alguém que vem de longe. Agora ele está aqui, descalço, desanimado, sem nada, sem forças..., mas o pai já tem prontos a veste, o anel e as sandálias novas.
As cores, predominantes na pintura, são duas: o amarelo ouro que simboliza luz, irradiação e vida doada e o vermelho que significa amor, calor humano e doação total. O manto vermelho púrpura nos ombros do pai lembra o Salmo 32: "O teu amor me envolve como um manto". O pai e o filho mais velhos são parecidos. Ambos têm barba e usam largos mantos vermelhos sobre os ombros. Mas que diferença dolorosa entre os dois! O pai inclina-se sobre o filho oferecendo-lhe abrigo e aconchego; o filho mais velho fica reto, rígido na postura, apoiado num bastão que alcança o chão. O manto do pai é largo e acolhedor, o do filho mais velho cai rente ao corpo inflexível. As mãos do pai estão abertas e tocam, o filho que volta, em uma atitude de bênção; as mãos do filho mais velho estão entrelaçadas e mantém-se junto ao peito em uma atitude de fechamento e de egoísmo.
A única indicação de que se trata de uma festa é o realce dado a um tocador de flauta (quase imperceptível) esculpido na parede na qual se apoia uma das figuras femininas. No lugar de uma festa, Rembrandt pintou a luz, a luz radiosa que nasce do íntimo do pai e envolve o filho. É retratada a alegria serena e tranquila, silenciosa e mística que pertence à casa de Deus. O abraço do pai, cheio de luz, é a casa de Deus. Lá estão a música e a dança. O filho mais velho fica do lado de fora deste circuito de amor e perdão, recusando-se a entrar.    pe. Saverio

Ceia- Agape: Catacumba romana
  O Nascimento do Ícone
A palavra ícone (do grego eikon) significa imagem. A partir do VII séc. essa palavra passa a designar uma pintura de caráter religioso sobre painel de madeira em estilo bizantino, grego ou russo. O ícone nasce para testemunhar o esplendor e a beleza de Deus feito homem e reúne, na sua linguagem pictórica e nos seus cânones preestabelecidos, ditados pela Igreja, toda a teologia cristã.
A iconografia não é apenas uma sublime forma de arte, mas um modo de viver com maior intensidade a fé, identificando-se com os sujeitos representados (Cristo, a Virgem e os santos).
O ícone é bento, incensado, levado em procissão e venerado. Ele orienta a nossa oração e a fortalece, é um caminho certo para a verdadeira adoração e contemplação.
O nascimento do ícone se insere num contesto amplo e abrangente. Ele remonta ao homem pré-histórico que faz das imagens, pintadas nas paredes das cavernas, um meio para estabelecer um contato com a divindade e para render real a presença daquilo que é representado (Se pense às cavernas de Lascaux na França ou de Altamira na Espanha, c.15.000 - 10.000 a. C.).
A partir do III séc. d. C., os cristãos já usavam as imagens para ilustrar a nova fé, testemunhas disso são as catacumbas de Roma. Contudo as imagens eram ainda pinturas simbólicas, metafóricas e alusivas (peixe, âncora, cordeiro, pomba, pavão etc.) e, por isso, longe ainda do significado de eikon.
Os ícones se difundem realmente a partir do IV séc. quando ainda a Igreja oriental era intimamente ligada à Igreja ocidental e não havia divisão: o ícone, portanto, é patrimônio indiscutível de toda a cristandade. Hoje, a pintura sagrada se propõe como meio eficaz e indispensável de diálogo ecumênico entre as igrejas.
A arte sagrada do ícone nasce para sustentar e fortalecer a fé dos primeiros cristãos num período em que começavam a difundir-se múltiplas heresias no âmbito cristão. Por isso o ícone se coloca como sólida e verdadeira teologia visual.    Pe. Saverio


Pavão - mosaico

Peixe e pão eucarístico.